Suscetibilidade de porta-enxertos e mudas de macieiras Maxi Gala, a infecção por colettotrichum fructicola
O progresso da doença (AA) foi obtido através da contagem de folhas doentes de cada planta, iniciado a partir dos primeiros sintomas e repetidas a cada 12h até 72h

Introdução - A mancha foliar de Glomerella (MFG), é o principal desafio fitossanitário da cultura da macieira, é causada pelo complexo Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc, no qual C. fructicola ocorre em maior frequência, podendo ser causada também pelo complexo C. acutatum J.H. Simmonds (VELHO et al., 2015). Os sintomas iniciais são manchas irregulares e avermelhadas nas folhas que após tornam-se amarelo-acinzentadas, e com acérvulos escuros. Epidemias severas causam desfolha precoce, comprometendo a produtividade (VALDEBENITO-SANHUEZA et al, 2002).
Recentemente foram introduzidos no Brasil, os porta-enxertos (PE) anões ou semi-anões da série Geneva® (G.), desenvolvidos pela Universidade de Cornell, EUA. Dentre eles, os mais utilizados no país são os anões G.213, G.214 e G.41 e os semi-anões G.202, G.210 e G.814. Os PE podem interferir na suscetibilidade da cultivar copa em relação a fitopatógenos (KORBA et al., 2002). Minuzzo et al. (2019) demonstraram que os PE podem ter diversos efeitos na suscetibilidade das maçãs 'Maxi Gala' à podridão olho de boi causada por Neofabaea sp.. No entanto, não se conhece a suscetibilidade dos materiais da série G. a Colletotrichum sp., e do efeito deles na cultivar enxertada. Esta pesquisa visou avaliar a suscetibilidade dos PE da série Cornell Gêneva® e M.9, e da cv. Maxi Gala quando enxertada sobre os mesmos à Colletotrichum sp..
Materiais e Métodos - Dois experimentos foram desenvolvidos em condições controladas em casa de vegetação em Vacaria-RS, no ano de 2020. No experimento 1, as plantas foram desenvolvidas durante 3 meses em vasos. Os tratamentos foram os PE G.202, G.814, G.213 e M.9, este último considerado padrão. O delineamento foi inteiramente casualizado, cada tratamento com 4 repetições, sendo cada uma constituída de uma planta.
O experimento 2 foram utilizadas mudas da cv. Maxi Gala enxertadas sobre os PE G.213, G.202, G.814, G.214, G.210, G.41 e M.9. As plantas foram desenvolvidas por 3 meses em floreiras plásticas. O experimento teve delineamento inteiramente casualizado com 6 repetições, e uma planta por repetição. A inoculação das plantas, em ambos os testes, foi com o isolado M57 de Colletotrichum fructicola, foi cedido pela UFSM. O isolado foi multiplicado em BDA a 2% e partir dele obtido uma suspensão em água destilada esterilizada + 0,01% de Tween 80 de 1x10 5 conídios.mL -1 . As plantas foram aspergidas com o inóculo e incubadas por 48 horas com molhamento foliar contínuo a 20ºC±2. Após esse período as plantas permaneceram entre 15 a 22ºC. O progresso da doença (AA) foi obtido através da contagem de folhas doentes de cada planta, iniciado a partir dos primeiros sintomas e repetidas a cada 12h até 72h, conforme fórmula AAD =?i=1n [(Yi+1+ Yi)/2] * [(Ti+1 - Ti)] descrita por SHANER e FINNEY (1977). Ao fim da última contagem, todas as folhas foram coletadas e avaliadas quanto a incidência (ID (%) = (NFD/NTF) x 100, onde NFD = número de folhas doentes e NTF = número total de folhas avaliadas) e severidade da doença, determinada de acordo com escala diagramática (KOWATA et al., 2010). Os dados foram submetidos à análise de variância, e as médias de tratamentos foram comparadas pelo teste Scott-Knott (p<0,05) utilizando o programa SASM-Agri (CANTERI et al., 2001).
Resultados e Discussão - No experimento 1 se verificou que todos os PE foram suscetíveis a infecção por C. frutícola (M57). Os autores Wang et al. (2017) sugeriram que plantas vigorosas são mais suscetíveis aos ataques de patógenos. Nos dados obtidos, porém, não foi possível confirmar o estabelecido por eles, visto que nos grupos com maior e com menor suscetibilidade à MFG se constataram portaenxertos de diferente vigor. O PE anão G.213 e o semi-anão G.814 apresentaram menores incidências que o semi-anão G.202 e o anão M.9. Não houve diferença significativa na severidade da doença (Tabela 1).

As plantas 'Maxi Gala' enxertadas apresentaram menor incidência da doença sobre o M.9. A mesma cultivar copa enxertada nos G.213, G.814 e G.214 teve menor incidência
que sobre os G.210, G.41 e G.202 (Tabela 2). A severidade da MFG foi menor na 'Maxi Gala' sobre os G.814 e M.9. O progresso da doença (AAD) foi menor na cv Maxi Gala sobre o M.9; nos G.210, G.202; G.814 e G.213 o progresso foi intermediário, e nos G.41 e G.214 a doença teve maior progresso (Tabela 2).
A suscetibilidade dos PE da série Gêneva® a C. fructicola é relatada pela primeira vez, visto que essa característica deles não foi citada previamente na literatura. Macedo (2020) quantificou na seiva de plantas sadias da cv. Maxi Gala diferentes concentrações de ácido salicílico e ácido jasmônico sobre diferentes porta-enxertos. Visto que fitormônios estão relacionados aos mecanismos de defesa das plantas (TAIZ e ZEIGER, 2017), a importância deles na relação porta-enxerto/copa/patógeno deverá ser esclarecida em estudos futuros.



Conclusão - Os porta-enxertos M.9, G.213, G.814 e G.202 são suscetíveis à infecção por Colletotrichum fructicola, agente causal da mancha foliar de Glomerella. A cv 'Maxi Gala' apresenta variação da incidência, severidade e progresso da Mancha Foliar de Glomerella quando enxertada em diferentes porta-enxertos.
Agradecimentos - Às empresas Viveiros Sul Agroindustrial e a Agropecuária Schio pelo e; aos Professores Marciel Stadnik e Fabiano Simões pela contribuição à pesquisa. *André Novais Spadoa 1 ; Rosa Maria Valdebenito Sanhueza 2; Vinicius Adão Bartnicki 2; Josué Isac Peruchin 3 - 1 Universidade Estadual do Estado do Rio Grande Do Sul; 2 - Proterra Engenharia Agronômica ltda; 3 - Viveiros Sul Agroindustrial Ltda
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