Portugal controla doenças da videira com microrganismos da uva
Leveduras que crescem na superfície da baga inibem o crescimento de fungos

E leia também - Clima de mudança traz uma nova geração de vinhos britânicos - Os melhores vinhos podem melhorar com a idade, mas isso não significa que seus fabricantes precisam ser vintage (vinho produzido com uvas colhidas em determinado ano em que as condições climáticas, de produção e outros fatores que colaboram sejam de qualidade excepcional)
Cientistas da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), em Portugal, descobriram como utilizar microrganismos da superfície da uva para combater fungos e controlar doenças da própria vinha, como a podridão cinzenta (Botrytis cinerea). A inovação visa explorar os compostos produzidos pelas leveduras para o desenho de formulações antimicrobianas, possibilitando a redução do uso de pesticidas ou fungicidas convencionais que comprometem a sustentabilidade do setor. O segredo está na microflora (bactérias, leveduras e fungos) que habita a superfície do bago da uva.
Estes microrganismos desempenham um papel fundamental no processo de vinificação (fermentação) e a sua diversidade e abundância variam com o estádio de maturação, variedade da uva, clima, práticas vitivinícolas, entre outros fatores.
"Mostramos que algumas espécies de leveduras que crescem na superfície da baga inibem o crescimento de fungos filamentosos que causam doenças", explica o coordenador do projeto, Hernâni Gerós.
"Isto abre excelentes perspetivas para o desenho de estratégias biológicas de controle das doenças da vinha, minimizando a utilização de fungicidas nocivos para o ambiente", refere o docente do Departamento de Biologia da ECUM e investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental ( CBMA ).
Os resultados foram publicados na revista científica OENO One - Vinha e Vinho, e o trabalho está a ser desenvolvido em paralelo com o projeto "GrapeMicrobiota", sendo cofinanciado com 250 mil euros da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
"GrapeMicrobiota" explora a caracterização, seleção e valorização de leveduras indígenas de três castas da região do Douro (Norte de Portugal): Touriga nacional, Sousão e Viosinho.
Para além do seu potencial de biocontrole de doenças causadas por fungos, estas estirpes identificadas no bago da uva estão a ser utilizadas para a produção de vinhos regionais de elevada tipicidade, em colaboração com a empresa Sogevinus, como alternativa às leveduras industriais.
"Com a globalização da vinha e dos métodos de vinificação, hoje em qualquer lugar se produzem vinhos de grande qualidade com castas de renome mundial, mas produzir vinhos com um perfil característico da região é um grande desafio, daí a aposta nas castas regionais. Estes vinhos típicos, que refletem as características da região, das gentes, dos modos de cultura ancestrais, são cada vez mais apreciados pelos consumidores", destaca Hernâni Gerós.
Os estudos realizados pela sua equipe na região dos Vinhos Verdes, com as castas Loureiro e Vinhão, permitiram ainda isolar 17 leveduras autóctones.
Eles mostraram que a microflora na superfície da uva depende da variedade da uva e da região, e também é influenciada pela quantidade de pesticidas ou fungicidas aplicados no vinhedo. Estes resultados foram também publicados na OENO One - Vinha e Vinho.
"A diversidade da comunidade microbiana da videira pode contribuir fortemente para a tipicidade dos vinhos, uma vez que os microrganismos que vivem à superfície do bago determinam o andamento do processo de fermentação", reforça Viviana Martins.

Clima de mudança traz uma nova geração de vinhos britânicos/Os melhores vinhos podem melhorar com a idade, mas isso não significa que seus fabricantes precisam ser vintage
Os melhores vinhos podem melhorar com a idade, mas isso não significa que seus fabricantes precisam ser vintage, como provou um jovem viticultor britânico. Ashton Kirby, de 20 anos, começou a trabalhar no Bewl Water Vineyard, no interior de East Sussex, sudeste da Inglaterra, quando seus pais o compraram em estado de abandono, três anos atrás.
Desde então, o ex-morador da cidade, para usar sua própria palavra, ganhou reconhecimento por suas habilidades de vinificação e este ano ganhou o prêmio de ouro por seu Reserve Cuvée 2018 da associação industrial britânica WineGB. "Estes são Bacchus (uva) e são da década de 1970. Isso significa que eles são cerca de 30 anos mais velhos do que eu", disse Kirby à Reuters.
Ele disse que o clima britânico mais quente como resultado da mudança climática significa que a variedade de uva agora produz "vinho fantástico", que ele descreveu como um Sauvignon Blanc inglês.
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No ano ado, uma pesquisa da Universidade de Reading destacou o impacto das mudanças climáticas nas regiões vitivinícolas da Grã-Bretanha até 2050.
Ele prevê que as temperaturas e as chuvas em regiões, como o sudeste e o leste da Inglaterra, significam que as uvas Chardonnay cultivadas na Grã-Bretanha "estarão maduras o suficiente para produzir vinho tranquilo de alta qualidade na maioria dos anos".
A WineGB disse que a indústria vinícola britânica está se expandindo a um ritmo fenomenal, com a área de plantação prevista para dobrar até 2032. "O que estamos começando a ver é o surgimento de uma nova geração de vinicultores", disse seu CEO interino, Ned Awty. "De repente, ter esse novo vigor e entusiasmo juvenil e não ser limitado talvez pelas formas de pensar que foram desenvolvidas em torno do clima antigo é realmente emocionante de se ver."
Kirby, que tem um corte de cabelo loiro mullet e usa uma camiseta de heavy metal, disse que ganhar o prêmio foi um grande endosso. "É uma forma de dizer que estou aqui... e olha, faço vinhos fantásticos e aqui está a prova", disse. *Reuters com tradução Agrolink*