Melão, o ouro amarelo é estudado por pesquisadores nacionais
Observou-se na ocasião que na ausência de etileno, os frutos sofriam retardo da mudança de cor da casca, porém com coloração normal de polpa

O grande título de fruta mais exportada pelo Brasil, atualmente, é sustentado pelo melão, em sua maioria cultivado na região Nordeste do país, atraindo cada vez mais a atenção de produtores e pesquisadores. Entre as cucurbitáceas, o melão é o que apresenta maior variabilidade em cores de polpa e casca, formatos, textura da casca, doçura e aroma e isto está diretamente ligado às suas características genéticas e fisiológicas de maturação.
Tratando-se da maneira que um fruto pode amadurecer, dois grandes grupos podem ser elencados: os frutos climatéricos, aqueles que amadurecem mesmo quando destacados da planta mãe, como a banana, tomate e o abacate; e os não climatéricos, que precisam estar fixados à planta até a sua plena maturação, como o morango, a laranja e a uva. Curiosamente, para melão ambos os casos ocorrem. Melões climatéricos são caracterizados pela polpa alaranjada, aroma mais pronunciado, maior teor de açúcar e menor vida de prateleira, e são representados no Brasil pela tímida, porém crescente, produção de melões nobres (Cantaloupe) e do tipo caipira (ex. Gaúcho). Já para o tipo não climatérico, o principal representante é o melão amarelo, vastamente presente no mercado nacional e de exportação, apresentando maior vida de prateleira, menor quantidade de compostos voláteis e polpa esverdeada.
Esta característica peculiar da espécie do melão em possuir diferentes tipos de maturação o torna uma fruta modelo para estudos de comportamento de desenvolvimento e amadurecimento a níveis que vão desde o campo e seus gargalos de produção até a compreensão molecular dos processos envolvidos. Com isto, os olhos do Prof. Dr. Ricardo Antonio Ayub se voltaram às brilhantes descobertas deste universo. Em 1996, na conceituada revista Nature, o professor Ricardo publicou em parceria com outros pesquisadores internacionais sobre o desenvolvimento do primeiro melão "longa vida", um tipo Cantalupensis transformado geneticamente para bloquear a síntese de etileno, hormônio responsável pela maturação em frutos climatéricos, e então foram observadas as características dependentes e não dependentes deste hormônio. Observou-se na ocasião que na ausência de etileno, os frutos sofriam retardo da mudança de cor da casca, porém com coloração normal de polpa, não havia abscisão da planta mãe, mantinham-se doces, porém com aroma bem menos pronunciado.
Ao longo dos anos, pesquisadores do mundo todo têm tentado explicar a maturação com maior riqueza de detalhes a partir do conhecimento trazido pelo melão longa vida, no entanto, pouco se sabe quando se tratam dos melões não climatéricos. Com isto, o Laboratório de Biotecnologia Aplicada à Fruticultura da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), coordenado pelo prof. Dr. Ricardo Ayub, vem focando neste objetivo. Recentemente, o artigo Transcriptome profiling of non-climacteric 'yellow' melon during ripening: insights on sugar metabolism (Perfil do transcritoma de melão 'Amarelo' durante a maturação: insights no metabolismo de açúcares) foi publicado na revista BMC Genomics e traz como inovação tecnológica a abordagem de sequenciamento genético do RNA de melão 'Amarelo', do tipo não climatérico, e abriu as portas para diversos trabalhos comparativos e de compreensão dos processos da maturação, como por exemplo, a ação diferencial de duas enzimas de sacarose sintase, que atuam na síntese e quebra do açúcar e portanto, afetam diretamente a qualidade final dos frutos. Em 2021, o grupo publicou o capítulo de livro Sugar Metabolism in Climacteric and Non?Climacteric Melon (Metabolismo de Açúcar em Melão Climatérico e Não Climatérico) na Annual Plant Reviews online que traz uma intensa revisão da literatura científica e elenca as principais novidades no assunto.
Figura 1. Pós-colheita de frutos de melão transformados ou não com RNA antisenso. Observa-se que o fruto controle (selvagem - wild type) encontra-se deteriorado (esquerda) quando colhido aos 38 dias após a polinização, seguido de armazenamento a 25°C por 10 dias, enquanto que o fruto transgênico se mantém íntegro (direita). Fonte: Ricardo Antonio Ayub.
Atualmente, seis estudantes de graduação e pós-graduação, juntamente com parcerias internacionais, atuam nesta linha de pesquisa e desbravam diversas frentes de trabalho como o metabolismo de carotenoides, componentes de parede celular, aroma e fitormônios. Espera-se que em um futuro próximo, as descobertas trazidas pelos pesquisadores contribuam para o desenvolvimento de novas variedades, novas ferramentas de manejo e de pós-colheita e norteiem trabalhos de edição genética, entregando assim frutos de maior qualidade ao consumidor final, não só para a cultura do melão, mas para toda a família das Cucurbitaceas.
*Prof. Dr. Ricardo Antonio Ayub/ Laboratório de Biotecnologia Aplicada à Fruticultura da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
**Enga. Agra. Mestranda Marília Aparecida Stroka como co-autora